ATO DE OFERECIMENTO

Nesta famosa oração, Santa Teresinha apresenta uma síntese perfeita da sua espiritualidade: Pequena Via, pequenez, abandono, amor.

O "Ato de Oferecimento" é o "fiat" de Teresa ao Amor Misericordioso. Numa atitude marial, ela se oferece como Serva, disposta a submeter-se à vontade do Senhor como "vítima de holocausto". Vale dizer: ela está resolvida a tudo sofrer pelo Amor, aberta a todos os sacrifícios e exigências que lhe sejam pedidos pela Misericórdia de Deus. A nós, partícipes da geração do prazer, inimigos de tudo que nos peça sacrifício e renúncia à vontade própria, nos quedamos estarrecidos: há insanidade nesse desejo de martírio e sofrimento! Há insanidade nesse prazer em abraçar a cruz. É bom que se esclareça: Teresinha ama e procura ser "vítima de holocausto" porque dessa forma pode se identificar ainda mais com o Bem-Amado em sua Paixão. Teresa deseja completar em sua carne o que falta à Paixão de Cristo, para se usar uma linguagem paulina.

Totalmente livre, ela se entrega nas mãos de Deus para que Ele faça dela o que bem entender, desde que não a impeça de morrer vítima de Seu Amor. Mas que Ele lhe tire uma liberdade: a de desagradá-lo. Teresa não quer a liberdade de fugir à Face Divina. Essa graça Ele nunca vai concedê-la, pois ela sempre será livre para negá-lo, para voltar atrás em seu oferecimento. Contudo, o coração apaixonado de Teresinha jamais a trairá. Na noite escura da fé, afastada das consolações do Amor, ela rezará: "Eu duplico minha ternura, quando Ele se furta à minha fé!".

Oferecendo-se como "vítima de holocausto ao Amor Misericordioso", Teresa aspira o martírio. Deseja ver seu sangue derramado pela fé. Mas não quer fazer estardalhaço disso. Quer do martírio o escondimento. De preferência, que ninguém saiba que sua alma já está macerada de amor. Que ninguém saiba que, por dentro, ela já está martirizada, perecida de amor, aniquilada pelo poder triturante da misericórdia de Deus: "O martírio ignorado, conhecido só por Deus, que o olho da criatura não pode descobrir, martírio sem honra, sem triunfo... Eis o martírio levado ao heroísmo..." (C 94). O amoroso Deus de Teresinha quer tudo dela. E ela nada lhe recusa. É um Deus Onipotente, ávido de amor. Sedento de amor dos pecadores, das pequenas almas, das crianças indefesas. Ele os deseja porque não pode contar com o amor dos prepotentes, dos orgulhosos, dos poderosos.

Teresa depõe no altar do amor a sua oferta: uma vidinha de nada, pronta para ser consumida. Teresa se oferece sem saber exatamente o que Deus fará com este "nada", com este "zerinho" que ela é. Mártir pelo desejo e pela vontade, oferecerá seu coração ao cutelo do Pai. "Morrer de amor é um bem doce martírio!"

A pequena Teresa é ambiciosa. Mártir do coração, quer ser também mártir do corpo. Quer os dois martírios para completar o seu holocausto, para levá-lo ao pleno cumprimento. E o Senhor vai aceitar o seu oferecimento. Vai queimá-la em seu amor, até que ela seja capaz de reconhecer, ao final de sua vida: "Não me arrependo de me haver entregue ao amor!". Em seu afã, ela suplica misericórdia, pedindo de certa forma para ser deixada em paz em seu oferecimento, como vítima: "Deixa-me saborear as doces amarguras do meu martírio..." (MB 4v)

A pequena Teresa sabe o que pede! Ela sabe o que oferece: seus pequenos nadas, sua pobreza, sua fraqueza. O Senhor Misericordioso acolhe essa nulidade em Seu Coração e a transforma em Seu Tudo!

Ato de Oferecimento de Si Mesma como Vítima de Holocausto ao Amor Misericordioso de Deus

Meu Deus! Trindade Bem-aventurada, desejo AMAR-VOS e vos fazer AMAR, trabalhar para a glorificação da Santa Igreja, salvando as almas que estão sobre a terra e libertando as que sofrem no purgatório. Desejo cumprir, perfeitamente, vossa vontade e chegar ao grau de glória que me preparastes, em vosso reino, numa palavra, desejo ser Santa, mas sinto minha impotência e vos peço, ó meu Deus! Sejais vós mesmo minha SANTIDADE.

Pois que me amastes, a ponto de dar-me vosso Filho único para ser meu Salvador e meu Esposo, os tesouros infinitos de seus méritos são meus, eu vo-los ofereço, com alegria, suplicando-vos que me olheis através da Face de Jesus e em seu Coração ardente de AMOR.

Ofereço-vos, ainda, todos os méritos dos Santos (que estão no Céu e sobre a terra), seus atos de AMOR e os dos Santos Anjos; enfim, ofereço-vos, ó BEM-AVENTURADA TRINDADE! o Amor e os méritos da SANTÍSSIMA VIRGEM, MINHA MÃE QUERIDA, é a ela que abandono minha oferta, suplicando-lhe vo-la apresentar. Seu Divino Filho, meu Esposo Bem-Amado, disse-nos durante sua vida mortal: "Tudo o que pedirdes a meu pai em meu nome, ele vo-lo dará!" Portanto, estou certa de que atendereis a meus desejos; eu o sei, ó meu Deus! quanto mais quereis dar, tanto mais fazeis desejar. Sinto em meu coração desejos imensos e é, com confiança, que vos peço vir tomar posse de minha alma. Ah! não posso receber a santa comunhão tantas vezes quanto desejo, mas, Senhor, não sois ONIPOTENTE?... Ficai em mim, como no tabernáculo, não vos afasteis jamais de vossa hostiazinha...

Quisera consolar-vos da ingratidão dos maus e suplico-vos tirar-me a liberdade de vos desagradar; se por fraqueza, cair alguma vez, que, logo vosso Divino Olhar purifique minha alma, consumindo todas as minhas imperfeições, como o fogo que transforma em si todas as coisas...

Agradeço-vos, ó meu Deus! todas as graças que me concedestes, em particular, de me ter feito passar pelo cadinho do sofrimento. É com júbilo que vos contemplarei, no último dia, empunhando o cetro da Cruz; pois que vos dignastes fazer-me partilhar desta Cruz tão preciosa, espero, no Céu, assemelhar-vos a Vós e ver brilhar em meu corpo glorificado os sagrados estigmas de vossa Paixão...

Após o exílio da terra, espero ir gozar de vós na Pátria, mas não quero acumular méritos para o Céu, quero trabalhar só por vosso AMOR, com o único fim de vos agradar, consolar vosso Coração Sagrado e salvar almas que vos amem eternamente.

Na tarde desta vida, comparecerei perante vós com as mãos vazias, pois não vos peço, Senhor, contar minhas obras. Toda nossa justiça é manchada a vossos olhos. Quero, pois, revestir-me de vossa própria justiça, e receber de vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo. Não quero outro Trono e outra Coroa senão Vós, ó meu Bem-Amado.

A fim de viver num ato de perfeito amor, OFEREÇO-ME COMO VÍTIMA DE HOLOCAUSTO A VOSSO AMOR MISERICORDIOSO suplicando-vos me consumir, sem cessar, deixando transbordar em minha alma as ondas de Ternura Infinita que estão encerradas em vós, e que assim eu me torne Mártir de vosso Amor, ó meu Deus!

Que este Martírio após me ter preparado para comparecer perante vós, faça-me, enfim, morrer e que minha alma precipite-se, sem tardar, no eterno abraço de vosso Amor Misericordioso...

Quero, ó meu Bem-amado, em cada palpitar de meu coração, renovar-vos este oferecimento um número infinito de vezes, até que, dissipadas as sombras, possa repetir-vos meu Amor, num Face a Face Eterno!..

Maria Francisca Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, religiosa carmelita indigna, Festa da Santíssima Trindade.