O ESPÍRITO SANTO

"...São Paulo diz que não podemos, sem este Espírito de Amor, dar o nome de Pai a nosso Pai, que está nos céus.

Ele é, portanto, bem livre para se servir de mim para dar um bom pensamento a uma alma..."

O amor à Santa de Lisieux levou muitos religiosos, artistas e intelectuais renomados a lhe prestarem homenagens através de títulos memoráveis. O filósofo francês personalista Emmanuel Mounier, nascido em Grenoble e falecido em 1950 com apenas 45 anos de idade, não hesitou em chamar a Santa de Lisieux de "Filigrana do Espírito Santo". Dessa forma queria considerar os lampejos de Deus a brilhar, através da Pequena Doutora, na escuridão do mundo. Tal brilho, sem dúvida, deve-se muito mais à ação do Espírito Santo que aos esforços de Teresinha em iluminar os corações. Tudo nela é graça! Em carta dirigida a Celina, datada de 15 de agosto de 1893, a Santinha afirma: "Jesus gosta de prodigalizar seus dons a algumas de suas criaturas, mas muitas vezes é para atrair outros corações, e quando alcança sua meta, faz desaparecer estes dons exteriores". E continua: "(Jesus) Gosta de mostrar-lhes o nada delas e o poder Dele".

Como teóloga proclamada Doutora da Igreja pelo Papa João Paulo no dia 19 de outubro de 1997, Teresinha não apresenta uma reflexão sistemática sobre o Espírito Santo. Nela, como em outros Doutores, não detectamos uma apresentação científica das coisas de Deus. Mas, segundo o Papa João Paulo II, nela "podemos vislumbrar um esclarecido testemunho da fé que, enquanto acolhe com amor confiante a condescendência misericordiosa de Deus e a salvação em Cristo, revela o mistério e a santidade da Igreja". O Santo Padre reconhece em Teresinha o carisma de Doutora da Igreja, "quer pelo dom do Espírito Santo que ela recebeu para viver e exprimir a sua experiência de fé... Nela convergem os dons da lei nova, isto é, a graça do Espírito Santo que Se manifesta na fé viva operante por meio da caridade".

A afirmação teresiana "tudo é graça!" nos leva a querer descobrir em que sentido essa graça atuou na vida da Padroeira das Missões. Os sete dons do Espírito Santo, descritos na carta de São Paulo aos Gálatas (5,22-23), foram largamente manifestados na vida de nossa padroeira:

O dom do entendimento, pelo qual compreendemos o que Deus nos fala na Sagrada Escritura para que vivamos conforme a sua vontade, levou Teresinha a ler, meditar e encontrar na Palavra de Deus a água viva para sua vida espiritual. Comentava e interpretava como verdadeira Mestra textos da Sagrada Escritura, mesmo sem ter conhecimentos bíblicos aprofundados. Nos escritos paulinos ela vai descobrir sua vocação no coração da Igreja: o Amor!
O dom da fortaleza transmite coragem para vivermos o Evangelho e darmos testemunho de Cristo em meio a críticas e perseguições. Concede-nos também resistência no sofrimento e na dor. Alma amadurecida no crisol de provações exteriores e interiores, Teresinha em tudo via as delicadezas de Deus. Como verdadeira guerreira, apesar de sua fraqueza, combateu os sofrimentos com "a espada do Espírito que é a palavra de Deus".
O dom da sabedoria nos dá o gosto de Deus, o interesse em saber de Seu amor, o desejo de "saboreá-lo" e experimentá-lo nas mínimas coisas. Teresinha foi sábia porque foi pequena e humilde, tendo acesso aos segredos do Reino, escondidos aos intelectuais e sábios segundo os cânones deste mundo. É o próprio Jesus quem age nela "de um modo misterioso e me inspira tudo o que Ele quer que faça a cada momento". Seus atos são atos de Deus; os seus pensamentos, pensamentos de Deus.
O dom da ciência nos possibilita olhar e julgar todas as coisas e acontecimentos com o olhar de Deus. A Teresinha não interessam as ciências profanas. Interessa-se pela ciência das virtudes, que as crianças aprendem de seus pais. Vive a ciência que a leva a se gloriar nas próprias fraquezas. Quer ser mestra na ciência da caminhada para Deus, que só Jesus conhece perfeitamente. Contanto, a única ciência que Teresinha verdadeiramente busca é a "ciência do amor": "A ciência do amor, oh, sim, essa palavra ressoa docemente ao ouvido de minha alma, só desejo essa ciência..."
O dom do conselho nos ajuda a perceber nas situações da vida a voz de Deus para decidir na hora certa, dizer a palavra mais sensata e a descobrir a maneira mais reta de agir e orientar as pessoas. Teresinha, tão jovem, sem nenhuma preparação específica, sabia como ninguém aconselhar e ajudar suas irmãs no discernimento da vontade de Deus: "O Bom Deus dignou-se encher-me a mãozinha tantas vezes, quantas eram necessárias para nutrir a alma de minhas irmãs. Confesso-vos... se por um tantinho sequer me apoiasse em minhas próprias forças, bem depressa vos entregaria os pontos..."
O dom da piedade nos inspira a amar e a adorar a Deus como Pai, em espírito de oração, através de uma vivência sacramental que produz frutos de caridade e solidariedade com os que sofrem. Este dom se manifesta em Teresinha na sua vida de oração intensa, desde pequenina. Ela confessa que, desde a idade de três anos, nunca passou alguns minutos sem pensar em Deus. Considerava-se uma rainha que tem, a cada instante, livre acesso ao rei e que pode obter tudo o que pode. Seu prazer era louvá-lo.
O dom do temor de Deus não nos incute medo de Deus, mas uma atitude respeitosa diante de Seu amor. Leva-nos a procurar agradá-Lo em tudo. Em Teresinha, este dom se expressa na descoberta da misericórdia infinita de Deus. Ela vive e se nutre nessa misericórdia através da qual "contempla e adora todas as outras perfeições divinas".

Teresinha não desprezou nenhuma moção do Espírito Santo. Seguiu todos os Seus movimentos. Sua alma viveu um constante Pentecostes. Ele, que sopra onde quer, inundou nossa Santa com seus dons, premiando a "pequena flor" do Carmelo com sua aragem suave e renovadora. Acarinhada pelos sopros de vida do Espírito, ela multiplicou os sete dons ao infinito. E ainda hoje somos beneficiados pela docilidade de nossa Santinha ao Espírito que dá vida!